Homens do DF não têm costume de ir ao médico, mostra pesquisa

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Mesmo com campanhas de orientação, como a Novembro Azul, e o perigo das doenças, a maioria dos homens do Distrito Federal não tem o costume de procurar centros de saúde. Os dados são da pesquisa Saúde do Homem, Paternidade e Cuidado, realizada pelo Ministério da Saúde. Na capital, 53,16% dos entrevistados disseram que não têm uma rotina de cuidados. O percentual é maior que o dado nacional – 36,96%.

Dos pesquisados no DF, 42,44% informaram que o desinteresse ocorre por diversos motivos, entre os quais o fato de nunca terem precisado do atendimento, a falta de preocupação e ainda os que não gostam de hospitais. Com isso, os problemas de saúde se proliferam com mais facilidade, uma vez que fica mais difícil fazer a prevenção.

Até o final deste ano, 850 novos casos de câncer de próstata devem surgir no DF, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). O tumor na próstata é o terceiro de maior incidência na população masculina. Atrás apenas das neoplasias e os de tumores de pele não Melanoma. No Brasil, serão 68.220 homens a terem a doença.

Diante das desculpas comuns que se ouve nos consultórios, o urologista Carlos Watanabe lembra que a barreira cultural ainda é muito forte e que nem a maior circulação de informações sobre as doenças reverteu totalmente esse quadro. “Há uma visão antiga sobre o homem. Ele tem que ser o provedor, assim não pode mostrar fraqueza nem ficar doente. Tem homem que só procura um hospital quando há alguma doença mais grave ou depois que a companheira insiste muito”, analisa o profissional do da Aliança Instituto de Oncologia.

O médico ressalta que não é somente o câncer de próstata que proporciona perigo, mas diabetes, hipertensão, obesidade, entre várias outras. Sem acompanhamento, o homem corre o risco de ter algo grave e só descobrir tempos depois, quando já é tarde.

Em relação ao câncer de próstata, a situação não é diferente. O preconceito tem sido combatido com as campanhas, mas ainda faz com que homens fiquem longe das salas dos urologistas, mesmo sabendo dos riscos.

O médico Carlos Watanabe compara que as barreiras eram maiores no início de sua carreira: muitos homens deixavam de se consultar por medo do exame do toque – quando o médico examina a próstata pelo canal retal. No entanto, como rotina anual, na maioria das vezes nem é preciso fazer esse tipo de procedimento.

Melhorou, mas ainda não é o ideal

Para o oncologista Paulo Sérgio Lages, do Instituto Onco-Vida, a campanha Novembro Azul tem sido uma importante aliada nessa mudança de comportamento. Desde o início deste mês, prédios públicos do Distrito Federal estão iluminados com a cor da campanha para lembrar da necessidade dos cuidados com a saúde masculina e que é preciso fazer exames para evitar o câncer de próstata e outras doenças relacionadas.

“Atualmente, percebo que as pessoas têm um nível de informação bom, mas o preconceito ainda impede que as consultas sejam feitas. Tem mais casos (de doenças) do que deveria ter”, analisa o profissional.

Desafios

Dessa forma, alguns dos desafios do Novembro Azul para os próximos anos são: criar uma cultura de prevenção desde a vida adulta dos homens; trabalhar melhor o envolvimento dos clínicos médicos na identificação de problemas de saúde e aumentar a assistência pública para os que, porventura, buscarem tratamento.

Fator crucial para a sobrevivência

Quando um tumor é descoberto em estágio inicial, a chance de cura após tratamento gira em torno de 80% a 90%. Isso só é possível se a pessoa seguir uma rotina de prevenção com checapes anuais, em especial após os 50 anos de idade. No entanto, mesmo com a procura por cuidados médicos, ainda há o perigo de o câncer bater à porta da pessoa.

Foi o que ocorreu com o mestre de obras Gildázio Souza Lopes, 73 anos. O homem conta que nunca deixou a obrigação pelo cuidado com sua saúde para a companheira e, depois dos 50 anos, ele ia constantemente ao médico. Até então, ainda não tinha feito o exame do toque, mas já tinha passado por vários procedimentos como o PSA, um exame de sangue específico para identificar anomalias prostáticas.

Da descoberta à cura

Em março de 2013, em um desses exames rotineiros, Gildázio descobriu que seu nível de PSA estava mais alto que o normal e o tamanho da próstata havia crescido de forma anormal. Após três biópsias, foi descoberto que havia um câncer e que era preciso retirar a próstata. Segundo ele, a cirurgia veio depois de muita luta, em 2016. Passado o susto, de lá para cá, ele só comemora o resultado: o tumor, nos últimos dois anos, não deu as caras.

Gildázio voltou a trabalhar, mesmo sendo aposentado, e toma o cuidado de não levantar muito peso. Os planos agora são de continuar viajando com a esposa, a também aposentada Marli Sampaio Lopes, 68. A próxima partida já está marcada para o dia 20 de dezembro. O casal vai passar as festas de fim de ano na cidade natal deles, o município de Jacobina, no norte da Bahia.

Mas ele quer ir mais longe: a programação para o aniversário de 50 anos de casamento, no ano que vem, é pegar um voo para Gramado (RS). Para isso, só vai ser necessário que dona Marli perca o medo de viajar de avião. Ele garante que vai fazer de tudo para convencê-la.

Dica de quem sabe

Para os homens que não se cuidam, Gildázio deixa o recado: “Deixe de ser machista. É melhor viver que morrer com qualquer doença. Se as mulheres se cuidam, a gente precisa se cuidar também”.

Saiba Mais

A pesquisa Saúde do Homem, Paternidade e Cuidado, realizada pelo Ministério da Saúde, apontou que 73% dos pais ou cuidadores entrevistados participaram das consultas de pré-natal com suas parceiras no DF.

Desse total, 75% afirmaram que esse envolvimento os motivou a cuidar melhor da saúde. Os dados demonstram que a paternidade é a principal porta de entrada do homem na unidade de saúde para que ele também se cuide.

Quem precisar de tratamento de câncer de próstata na rede pública do DF pode procurar as Unidades Básicas de Saúde (UBS). A pessoa será encaminhada para a área oncológica e pode ser levada a fazer radioterapia ou quimioterapia.

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