O câncer de próstata é o segundo tipo mais comum de câncer no homem. Estima-se que cerca de 68.000 novos casos sejam diagnosticados no Brasil todos os anos. Em grande parte dos casos, o tratamento precoce com cirurgia (prostatectomia radical aberta, laparoscópica ou robótica) ou radioterapia tem altos índices de sucesso (algo em torno de 85-90% de cura no acompanhamento de 5 anos). No entanto, esses dois métodos tem efeitos colaterais, a depender de fatores relacionados ao paciente e a doença, técnica utilizada, experiência do cirurgião e ferramentas disponíveis.
Nos últimos anos, as terapias focais tem ganhado cada vez mais espaço para o tratamento de diversas doenças. As terapias focais tem como objetivo a preservação do órgão com menor risco de sequelas funcionais e tratamento somente do tumor ou da região em que se encontra o tumor.
Inicialmente utilizada em tumores de rim e mama, atualmente tem sido utilizada também no câncer de próstata em casos selecionados como alternativas ao tratamento padrão com cirurgia ou radioterapia.
Figura 1 – Crioterapia para tratamento de câncer de próstata. Crioprobes são colocados por via perineal e é realizado congelamento das células tumorais com gás argônio. Em tempo real, é acompanhada a formação da área de congelamento com probe passado através do reto. A seleção dos pacientes deve ser rigorosa para evitar complicações.
Quais os tipos de tratamento focais disponíveis para câncer de próstata?
Duas tecnologias em terapia focal tem sido mais estudadas: a crioterapia e a ablação por radiofrequencia (HiFu – High intensifity Focal ultrassound). Na crioterapia é realizado o congelamento da região a ser tratada com probes introduzidos por via perineal e uma bola de gelo é formada.No Hifu, um probe ultrassônico é introduzido através do reto e um feixe de ultrassom de alta frequência é aplicado na região a ser tratada de forma precisa.
Em ambas as tecnologias, o médico consegue acompanhar em tempo real a aplicação do tratamento delimitando as estruturas principais da próstata de forma a minimizar o risco de complicações. Os aparelhos permitem ao médico urologista associar a imagem de ressonância magnética que identificou a área da lesão com o ultrassom realizado no momento do procedimento.
Essa técnica de tratamento focal serve para mim? Como faço para saber?
A abordagem do câncer de próstata é individualizada. Atualmente, muitas vezes o tratamento do câncer de próstata envolve não só o urologista, mas também o oncologista e radioterapeuta. Para o câncer de próstata localizado (isso é, sem metástases) é possível escolher entre modalidades de acompanhamento ativo, cirurgia e radioterapia a depender do estado de saúde geral do paciente, expectativa de vida, extensão do tumor e agressividade do tumor na biópsia.
O seu urologista irá avaliar diferentes fatores para determinar se você é elegível para esse tratamento alternativo de tratamento focal. De forma geral, para ser submetido a terapia focal deve estar atento a alguns dados:
- A doença deve estar localizada na próstata (estadiamento T1 ou T2)
- Em geral, os pacientes que podem se beneficiar do tratamento são aqueles com tumores menos agressivos, classificados com de baixo risco para metástase ou de risco intermediário favorável.
- Não pode haver evidência de doença na vesícula seminal ou metástases a distância (em linfonodos ou ossos, por exemplo).
- Próstatas muito grandes ou com lesões em regiões específicas da próstata podem ser de mais difícil tratamento pelo método focal, cabendo ao urologista avaliar se o paciente se beneficiará do tratamento focal ou não.
- Pacientes com histórico de doenças gastrointestinais inflamatórias não podem ser submetidos a essa modalidade de tratamento, estando sujeitos a risco elevados de complicações com fístula.
- O tumor tem que estar preferencialmente limitado a um lado ou região da próstata, e esse é um dado muito importante.
Há evidência de que pacientes em que a doença se encontra nos dois lados da próstata tem maior risco de complicações graves das terapias focais como fístula urinária e retal, estreitamento do canal urinário.
É importante alertar os pacientes de que o método focal trata somente uma parte da próstata. Sabemos que cerca de 65% dos pacientes com câncer de próstata tem doença multifocal e podem necessitar de tratamento de toda a glândula prostática, o que aumenta o risco de complicações.
Figura 2 – Terapia focal. Ilustração mostrando o probe de ultrassom colocado através do reto gerando o ultrassom de alta frequência para tratamento de área com câncer de próstata. localizado na parte posterior da próstata. Tumores da parte anterior, próximos a uretra ou extensos podem ser de mais difícil tratamento nessa modalidade. É necessário avaliação criteriosa.
Após a cirurgia de prostatectomia, toda a próstata é removida. Mas na terapia focal, somente uma parte é tratada. Como fica o PSA após?Uma vez que ainda sobra próstata não tratada, é esperado que o paciente ainda tenha PSA detectável após o tratamento focal, diferente dos pacientes que fazem cirurgia. O urologista fará seu acompanhamento e caso perceba um aumento significativo, pode ser necessário nova biópsia.
Fiz o HiFu e foi detectado retorno da doença. O que eu faço?
Seu médico avaliará se é possível repetir o tratamento focal ou se será necessário fazer radioterapia ou mesmo resgate cirúrgico. Será necessário avaliar se houve retorno da doença somente na próstata (doença localizada) ou se há sinais de avanço da doença para linfonodos ou outros órgãos.
Conclusão
As terapias focais estão evoluindo e alguns pacientes podem ser submetidos ao tratamento com HiFu ou crioterapia, caso não sejam elegíveis ao tratamento padrão com cirurgia ou radioterapia. Ainda há dúvidas se a longo prazo os resultados no controle da doença e mortalidade são comparáveis aos métodos padrão-ouro, uma vez que são tecnologias novas. Bem aplicados, os métodos focais podem ser úteis, especialmente nos pacientes que não tem condições clínicas de ser submetidos a tratamentos mais invasivos.